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Agricultura familiar

O espírito capixaba que transforma alimentos em oportunidade

Agricultores familiares pomeranos de Santa Maria de Jetibá (ES) ganham as estradas para levar hortaliças frescas a cidades capixabas e mineiras, driblando atravessadores, criando redes solidárias e fortalecendo o empreendedorismo rural com raízes, suor e inovação

por Leandro Fidelis

em 28/05/2025 às 5h36

7 min de leitura

O espírito capixaba que transforma alimentos em oportunidade

*Fotos: Weuller Souza

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Desgurmetiza, bebê!” Com esse bordão, a chef e apresentadora Rita Lobo, do canal GNT, convida o público a abandonar os industrializados e voltar às raízes da alimentação com o que ela chama de “comida de verdade”. Ingredientes naturais, frescos e, de preferência, direto do campo. Na outra ponta desse ideal, agricultores familiares de Santa Maria de Jetibá (ES) têm feito o caminho inverso ao do alimento industrial. Saem da zona rural com suas produções e levam qualidade e frescor aos grandes centros urbanos e cidades vizinhas, por meio de feiras simples, íveis e genuinamente capixabas.

Conhecida como “Horta Capixaba”, Santa Maria de Jetibá se destaca nacionalmente na produção de hortifrutigranjeiros. O município é o maior produtor de chuchu, ovos de galinha e ovos de codorna do Brasil, além de ocupar posições entre os dez primeiros em outras culturas como gengibre, vagem, inhame, taioba, pimentão e morango (*Veja mais no infográfico abaixo). São números impressionantes, mas que ganham vida quando associados a histórias reais, como a de agricultores que optaram por enfrentar estradas e desafios para oferecer seus produtos diretamente ao consumidor final.

Gilvânio Tesch, conhecido como “Gil da Feira”, tem 36 anos e vive em São Sebastião do Meio, comunidade rural de Santa Maria. A ideia de trabalhar com feiras surgiu da necessidade de agregar valor à produção. “A gente dependia demais dos atravessadores, que pagavam um valor muito abaixo do que a gente merecia. Sempre sonhei em ter um caminhãozinho para vender direto”, relata.

Após tentativas frustradas na Grande Vitória, Gil encontrou no interior de Minas Gerais e no sul do Espírito Santo um público carente de produtos frescos e íveis. “Comecei em Chalé e Lajinha, e depois em Irupi, onde mantenho a rotina semanalmente. A receptividade foi incrível, logo na primeira semana a clientela dobrou.” Tesch reconhece a importância de seu trabalho. “Em Irupi me acolheram de braços abertos. Todo mundo me conhece como o rapaz da feirinha, e isso me dá muito orgulho.” Ele acredita que, mesmo se um dia parar, a feira continuará. “Sempre tem um amigo ou parente querendo entrar nesse ramo.”

Após tentativas frustradas na Grande Vitória, Gil encontrou no interior de Minas Gerais e no sul do Espírito Santo um público carente de produtos frescos e íveis.

Outro exemplo de empreendedorismo rural é o de Alexandro Rangel Lutzke (38), morador de Rio Lamego. Desde jovem, ele se acostumou a ver seu trabalho desvalorizado. “Sempre trabalhei para os outros, e era difícil ver o produto ser vendido por um preço tão baixo. Foi quando me casei e meu sogro, que tem 30 anos de experiência em feiras, me incentivou a seguir esse caminho”, conta. Juntamente com os filhos, o agricultor começou a atuar em Alto Jequitibá (MG), onde foi bem recebido. “O pessoal de lá é muito gente boa, nos trata bem. Isso faz toda a diferença”, diz.

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Apesar da boa aceitação, Lutzke destaca as dificuldades da rotina. “Às vezes chego em casa duas horas da manhã e acordo às cinco. Outras vezes nem volto, durmo na estrada. É cansativo, mas gosto do que faço, gosto de estar na estrada, de dirigir caminhão”, afirma. O sonho dele é que os filhos deem continuidade ao trabalho. “Se quiserem seguir, já têm meio caminho andado. O negócio é puxado, mas pode ser bom para eles no futuro.” Assim como outros produtores da região, ele também aposta na força do trabalho familiar e da relação direta com o consumidor.

*Foto: Marcos Pastore

Joel Schmidt (52), na foto acima, também de São Sebastião do Meio, está há quase oito anos levando sua produção para Muniz Freire e Anutiba (Alegre), no Caparaó capixaba. Ele relata que a ideia de fazer feira já era antiga, mas só se concretizou pouco antes da pandemia. “Foi difícil no começo, a pandemia quase atrapalhou tudo, mas depois que retomamos deu certo e estamos até hoje”, conta. Segundo ele, os consumidores locais valorizam o frescor dos alimentos. “Colhemos tudo na segunda-feira de manhã e no mesmo dia à tarde já está à venda.”

A conexão com a vizinhança também é um diferencial. Schmidt compra de outros produtores locais aquilo que não consegue produzir sozinho. “Tem muita coisa que é da minha roça mesmo, como alface, salsa, coentro, pimentão e beterraba. O que não tenho, compro dos vizinhos. Não preciso ir ao Ceasa para revender. Isso fortalece nossa comunidade e garante uma renda mais justa para todos.”

A rede de cooperação entre produtores faz da feira mais do que um ponto de venda — é um elo social e econômico entre as famílias da região.

Dignidade
A história de Alexandro Lutzke, que atua em Alto Jequitibá (MG), também reforça o perfil de vida intensa dos feirantes. Em entrevista concedida logo após voltar da Ceasa, ele destacou como a rotina corrida interfere na convivência familiar. “É uma vida muito puxada. Trabalho direto, mas o retorno financeiro compensa, e a gente vai seguindo enquanto consegue”, disse. A fala dele representa muitos produtores da região, que fazem do esforço diário a base para o sustento e a dignidade da família.

Para os consumidores, essa dedicação faz toda a diferença. O aposentado Marcos Pastore Braga, de Muniz Freire, é um dos clientes fiéis da feirinha que acontece toda segunda-feira a partir das 15h. “A gente preza por qualidade e preço justo, e isso só encontramos com os produtores de Santa Maria de Jetibá. Sem contar o atendimento, que é de excelência. Dá gosto comprar direto de quem planta”, afirma. Ele observa que, além de abastecer a cidade, a feira traz um senso de comunidade e respeito ao trabalho rural.

A confeiteira Jaíne Souza, de Irupi, também destaca os benefícios de comprar na feira. “Gosto muito porque tem produto fresco. Ela tem grande variedade e qualidade, e o preço também é bom.”

Para o presidente da Federação da Agricultura do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, os agricultores familiares pomeranos estão promovendo uma verdadeira transformação. “Conheço de perto a realidade deles. São pessoas que valorizam cada minuto de trabalho na terra e evitam até ir ao banco para não perder tempo fora da produção. Por isso, o fato de estarem se deslocando para buscar novas oportunidades já demonstra uma mudança de postura significativa, que deve ser valorizada”, avalia. Segundo ele, isso reduz a dependência de atravessadores e garante uma renda mais justa.

A analista técnica do Sebrae/ES, Adriana de Jesus Notaroberto, reforça que o apoio institucional é essencial para fortalecer essas iniciativas. O serviço aposta em estratégias integradas que envolvem capacitação empreendedora, o a mercados e valorização da cultura local. “Programas de formação em gestão, marketing e inovação são fundamentais para que os produtores aprimorem seus processos e ampliem sua competitividade”, diz.

*Arquivo pessoal

Além disso, ainda segundo Adriana, o estímulo à formalização e à organização coletiva, como cooperativas e associações, contribui para o fortalecimento da governança e para a conquista de novos canais de comercialização para esses agricultores. Outro eixo essencial é o apoio à promoção territorial e ao turismo rural, que pode potencializar o alcance dessas feiras e atrair novos públicos.

“O Sebrae/ES também atua em parceria com prefeituras, instituições financeiras e entidades do agro para viabilizar investimentos em infraestrutura, logística e comunicação. Acreditamos que, ao unir tradição e inovação, é possível transformar essas feiras em vitrines do empreendedorismo rural capixaba, gerando renda, autoestima e desenvolvimento sustentável para o campo”.

*Colaboraram nesta reportagem: Marco Aurélio Garcia Cortez, Marcos Pastore Braga, Meire Fidelis e Weuller Souza.

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