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Anuário do Agro Capixaba

A vida secreta das abelhas no império do café

por Fernanda Zandonadi e Rosimeri Ronquetti

em 19/05/2025 às 4h59

11 min de leitura

A vida secreta das abelhas no império do café

Foto: Igo Estrela / Sistema CNA-Senar

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“Se as abelhas desaparecessem da face da Terra, a humanidade teria apenas mais quatro anos de existência”. A citação é atribuída ao famoso físico Albert Einstein, mas não há meios de saber se ele realmente disse isso. No entanto, a falta da confirmação de autoria não tira das palavras sua força. As abelhas são essenciais para a humanidade e para a preservação da biodiversidade do planeta.

Na vanguarda do agronegócio e da sustentabilidade, a apicultura do Espírito Santo transcende a produção de mel. Nas terras capixabas, as abelhas são não apenas guardiãs do mel, mas protagonistas na polinização do café, a joia do agro capixaba que encanta o mundo com seu aroma e sabor. O fenômeno está redefinindo o setor apícola e meliponícola do Estado, trazendo mais produtividade e uma nova visão de desenvolvimento sustentável.

O Espírito Santo é conhecido por sua produção de mel multifloral, um produto que captura a essência da diversidade vegetal capixaba. Segundo a Federação Capixaba das Associações de Apicultores (Fecapis), o Estado possui 15 associações, envolvendo cerca de 1.000 apicultores e 30.000 colmeias. A meliponicultura prospera e a Associação dos Meliponicultores do Espírito Santo (AME-ES) já registra de 6.000 a 8.000 colmeias, manejadas por aproximadamente 1.000 meliponicultores.

JULIANO ABELHA

Foto: divulgação

O café conilon, variedade em que o Espírito Santo é o maior produtor do Brasil, depende da polinização cruzada para maximizar sua entrega de grãos. A presença de diferentes clones na mesma área é crucial, e as abelhas desempenham um papel vital ao transportar o pólen. Joyce Mayra Volpini Almeida Dias, da startup Agrobee, detalha que testes em lavouras capixabas demonstraram aumentos produtivos acima de 20% com a polinização assistida, evidenciando a importância do trabalho.

Além disso, um estudo da Embrapa Meio Ambiente, em colaboração com a Syngenta, revelou uma potencialidade imensa: a polinização assistida pode aumentar a produtividade do café arábica em 16,5%, elevando a receita anual do setor em até R$ 22 bilhões, qualificando parte da produção como café especial.

Transformação

Há vinte anos, André Antonio Lopes trabalha na apicultura. Hoje é presidente da Associação de Apicultores e Agricultores Familiares de Fundão (Fundamel) e soma 200 colmeias espalhadas nos municípios de Fundão, Pancas, Serra e Aracruz. A paixão pelas abelhas começou por acaso. Descobriu um enxame em uma bananeira e, mesmo com muito medo, decidiu recolher a colmeia. Depois, buscou informações, comprou um macacão para lidar com as abelhas e nunca mais parou.

“O segredo para lidar com as abelhas é o trabalho constante, não acontece da noite para o dia. E, para ser um bom apicultor, tem que gostar das abelhas”, ensina o apicultor, que também é meliponicultor.

A produção de mel em Fundão começou há três décadas, mas a associação surgiu há 15 anos. Na época contava com quase 50 associados e a ideia era trabalhar na formação dos apicultores.

Foto: divulgação

Os associados buscaram parcerias com Incaper, Sebrae, Senar e Federação dos Apicultores do Espírito Santo. Visitaram outros Estados em busca de aprendizado, trouxeram para Fundão cursos de formação.

“Nos juntamos para aprender sobre as abelhas e também sobre o associativismo. Queríamos nos profissionalizar, e consequentemente, aumentar nossa produção”.

Uma das conquistas da associação é a produção de rainha e melhoramento genético das abelhas para aumentar a produtividade dos apiários. O processo, implantado em 2019, é um dos únicos que existem no Estado. “Montamos estrutura para criar, multiplicar e melhorar as abelhas rainhas por meio da técnica de transferência de larvas”, contou, enfatizando que a associação quer, agora, implantar a Casa de Mel, uma unidade que vai atender aos apicultores de Fundão e entorno.

A associação hoje conta com 16 associados de Santa Teresa, Aracruz, Fundão e Serra, produz 46 toneladas de mel por ano e comercializa a maior parte com intermediários que compram a iguaria.

O presidente salienta, ainda, que o mel é apenas uma das benesses oferecidas pelas abelhas. “O maior trabalho delas é a polinização, um trabalho invisível e que gera benefícios imensuráveis”, explica, complementando que a maior parte dos apiários fica perto das lavouras.

É o caso de Marcos Antônio Mandeli, associado da Fundamel e que há 12 anos trabalha com abelhas. Nos últimos anos, depois de  buscar informações sobre a polinização, ele decidiu instalar suas colmeias próximas às plantações.

Mandeli tem apiários em Fundão, nos Sítios Fazenda da Pedra e Schaefer, ambos na região do Parque Municipal Goiapaba-Açu. Os cerca de oito hectares de café plantados nos dois sítios são os quintais de suas abelhas.

Além disso, ele compartilha o conhecimento e as colmeias. Em Santa Teresa e Aracruz, instalou os apiários em  propriedades de terceiros, sempre próximos às lavouras. São produtores que não querem trabalhar com abelhas, mas querem a polinização. Ele também trabalha com abelhas sem ferrão.

“Resolvi trabalhar com a meliponicultura para polinização, uma vez que tem plantas que a apis não poliniza e a sem ferrão poliniza. Também quis trabalhar na preservação da espécie, que praticamente já não existia mais na nossa região”, conta, salientando que as abelhas favorecem a polinização tanto do café quanto das plantas frutíferas da propriedade.

O presidente da Associação de Apicultores de Aracruz (Apiara), Lomir José da Silva, é técnico agrícola, trabalha com abelhas há mais de 30 anos e, há 10 anos, com polinização de café conilon.

Lomir José da Silva. Foto: divulgação

Pioneiro no Estado na polinização de conilon, no início colocaram as colmeias na lavoura só para produzir mel. Mas hoje trabalha tanto com a iguaria quanto com a polinização.

Atualmente, ele tem entre 800 a mil colmeias, que ficam parte do ano em áreas nativas e, na florada do cafezal, são deslocadas para polinizar a plantação. É a chamada abelha migratória.

O primeiro cliente de Lomir José da Silva foi Giovani Malovini, de Aracruz. Na época, ele plantou uma variedade de café, mas não teve a informação de que era necessário plantar vários clones para ter uma boa fecundação. “Estávamos sofrendo com pouca produção, mesmo com todos os cuidados e tratos culturais. Conhecemos o Lomir e resolvemos tentar. No primeiro ano, a produção aumentou em cerca de 40%”, disse.

As abelhas foram, então, colocadas em áreas de baixa produtividade. Hoje, Malovini tem três apiários na propriedade, todos fixos e que cobrem os cerca de 20 hectares de conilon.

Asas da revolução

A Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel) também trabalha com essa revolução aérea. Com o projeto “Apiário Cooabriel”, lançado em 2023, a cooperativa não só explora a produção de mel mas também a polinização assistida das plantações de café, estreitando ainda mais a relação entre sustentabilidade e produtividade.

O crescente interesse pela apicultura e seu elevado potencial econômico, aliado à possibilidade de conciliação tanto com a cafeicultura quanto em outros cultivos, motivaram a cooperativa a iniciar suas atividades nesse nicho. O projeto-piloto conta com 30 colmeias, instaladas na Fazenda Experimental da cooperativa, em São Domingos do Norte.

“É visível o impacto que as abelhas e outros insetos polinizadores têm sobre as lavouras, trazendo ganhos tanto para a produtividade quanto para a padronização e qualidade dos frutos”, explica o gerente corporativo em agropecuária da Cooabriel, José Roberto Gonçalves.

Além de contribuir para a produtividade e qualidade dos grãos, a presença de abelhas nas lavouras é sinal de uma produção sustentável, conforme avalia o presidente da Cooabriel, Luiz Carlos Bastianello.

“Quando se fala em apicultura, há uma ligação direta com a sustentabilidade. O mercado quer saber se o café que está adquirindo foi produzido dentro de princípios sustentáveis e onde se tem abelha é sinal de que o trabalho está sendo feito dentro do que é considerado ambientalmente correto. As duas atividades podem ser conciliadas. A cooperativa está comprometida para que esse projeto evolua”.

O cooperado Ananias Sperandio vê na apicultura uma oportunidade de renda extra. Com propriedade em São Gabriel da Palha, o produtor possui oito colmeias atualmente. “Tenho interesse e gosto da apicultura, acredito que compensa. O projeto da cooperativa é uma oportunidade de adquirir conhecimento para fortalecer a atividade”.

(D) Neli Ponath Pagung e Eberth Pagung, com a filha Silvânia Pagung da Costa e o esposo.

O casal Neli Ponath Pagung e Eberth Pagung, de Vila Pavão, e a filha Silvânia Pagung da Costa, de Nova Venécia, também investem na apicultura e buscam se aprimorar no manejo, principalmente na comercialização da produção. “A iniciativa da cooperativa é muito boa. Além de incentivar os cooperados para que invistam na apicultura, oferecem todo e para expandirmos esse trabalho”.

O apicultor Juliano Cordeiro, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do projeto da cooperativa, que carrega a apicultura até no apelido, “Juliano Abelha”, atua há mais de dez anos no setor e avalia a iniciativa da cooperativa como 100% positiva. “No momento, o mundo está voltado à sustentabilidade, e onde tem abelhas, têm sustentabilidade”.

A trajetória de Juliano com as abelhas começou em 2013, durante o resgate de um enxame. A experiência despertou uma paixão que o levou a transformar o hobby em profissão. Mesmo diante de desafios, como a perda de enxames durante a seca entre 2014 e 2015, ele perseverou e aprimorou suas técnicas.

Junto à sua esposa, Katia, Juliano investiu na expansão da produção, inicialmente com recursos próprios. A busca por conhecimento o levou a se especializar em áreas como produção de rainhas e seleção genética.

Ele ressalta ainda que a iniciativa da Cooabriel contribui significativamente para o aumento da produtividade agrícola por meio da polinização assistida, além de impulsionar a produção de mel da florada. “O mel da flor do café representa um tesouro na mão dos produtores”, enfatiza.

Polinizando ideias

Apaixonado pelas abelhas nativas brasileiras, Hércules Birchler, ao lado da esposa Thaiz Romã, fundou, em 2019, a Startup Jardim de Mel, em Colatina. Formado em Meliponicultura pelo Ifes, trabalha com projetos educacionais e incentiva produtores rurais a adotarem a prática da polinização.

São pioneiros no Estado na comercialização de colmeias com a autorização dos órgãos ambientais e foi dele o primeiro meliponário do Espírito Santo a possuir a Autorização de Manejo de Fauna (AMF), autorizado pelo Iema.

“É por meio delas que multiplicamos espécies de flora. E essa manutenção garante que essas espécies permaneçam no ecossistema. É um ciclo muito bonito e as abelhas são um grande canal, são os insetos mais importantes no que diz respeito à polinização dos nossos biomas”, afirma.

O voo das abelhas vai ainda longe. Em Conceição da Barra, a Associação de Apicultores Barrense conta hoje com 32 membros. São quilombolas, agricultores familiares, pescadores artesanais, assentados da reforma agrária e moradores da sede do município. A união entre eles foi firmada em 2014, com o objetivo de trazer uma fonte alternativa de renda para seus associados, conta o presidente Marcilio Carvalho Santos.

A associação desenvolve uma série de atividades focadas principalmente na produção de mel, agricultura sustentável e preservação ambiental. “Além disso, oferece apoio e capacitação para seus associados em áreas como técnicas agrícolas e manejo de mel. Os principais objetivos da associação são melhorar a qualidade de vida da comunidade, promover a sustentabilidade, gerar empregos e aumentar a renda local”.

Se a produção de mel é ainda a maior fonte de renda do grupo, a polinização ganha força ano após ano. “Embora não estejamos diretamente envolvidos na cafeicultura, as abelhas ajudam na polinização das flores de café, o que pode aumentar a produtividade e a qualidade da colheita”, conta.

A associação tem também caráter educativo. “Buscamos conscientizar os produtores sobre os benefícios da polinização natural, promovendo uma agricultura mais sustentável e a preservação das abelhas”.

O perfil dos associados também é uma grande conquista para o meio ambiente. “Eles desempenham um papel fundamental no fortalecimento da agricultura local e na preservação de saberes tradicionais, especialmente no que diz respeito às práticas agrícolas sustentáveis e ao cuidado com o meio ambiente. Por meio da colaboração mútua, buscam melhorar suas condições de vida e gerar novas fontes de renda”, completa.

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