Póde Mulheres: do cultivo à decoração de alto padrão
por Flávio Cirilo
em 26/05/2025 às 4h58
5 min de leitura

Foto: divulgação / Secom/ES
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Elas quebraram o tabu preconceituoso de que a mulher tinha que ficar na cozinha preparando ou servindo o café, e mostraram que o lugar delas é onde elas quiserem, inclusive, na produção da bebida mais consumida do Brasil. E nesse contexto de empoderamento produtivo, as empreendedoras do grupo Póde Mulheres, da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), agora dão um novo o, com foco na sustentabilidade e inovação.
“Até o ano de 2023, só estávamos voltadas para a qualidade do café. No final do ano de 2023, o grupo teve a oportunidade de fazer o curso “Artesanato em Palha de Café” através do Sebrae ES/Cafesul. Esse curso foi um sucesso e trouxe uma expectativa muito grande para se tornar um dos produtos principais do grupo, ao lado dos cafés especiais”, explicou a gerente istrativa e agente de Desenvolvimento Humano (ADH) da Cafesul, Natércia Bueno Vencioneck.
Artesanatos de alto padrão
A iniciativa trouxe novas perspectivas e a possibilidade de explorar novos mercados, por exemplo, a comercialização de artesanatos de alto padrão.
“Pretendemos produzir com estilo e qualidade no acabamento para atender a clientes que valorizam peças utilizando resíduos vegetais, que ficariam inutilizados. Vamos aperfeiçoar o trabalho e criar produtos para atender a demanda de um público exigente, com acabamento, beleza e sustentabilidade”, projeta Vencioneck.
Todo o trabalho será conduzido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O objetivo é promover os artesanatos especiais por meio do turismo em rotas onde residem mulheres que fazem parte do grupo Póde Mulheres.
“A previsão para 2025 é que possamos trabalhar em uma parceria com ações voltadas ao turismo de experiência, criação de uma rota turística, precificação, comercialização das peças produzidas com as palhas do café junto às grandes empresas, oficina de acabamento e melhoramento dos produtos”, explica a gestora do Sebrae Ana Paula Cozer.
O processo ainda contará com capacitações sobre estratégias para vender mais, desenvolvimento de novos modelos de embalagens voltados à sustentabilidade, visitas técnicas estaduais e nacionais.

Algumas integrantes do Póde Mulheres na premiação do Golden Cup Brasil 2024, na SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte.
Mulheres na cafeicultura capixaba
Dados do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), obtidos a partir do Sistema Informatizado de Ater (Siater), apontam que nos últimos três anos, dos 17.457 atendimentos feitos no setor da cafeicultura, 4.203 foram para mulheres.
De acordo com o último Censo Agropecuário (2017) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Espírito Santo tem cerca de 108.014 estabelecimentos agropecuários. Destes, 14.661 são dirigidos exclusivamente por mulheres.
Apesar de os números indicarem uma baixa participação feminina na cultura cafeeira, a realidade tem mudado e vem apontando para um crescimento exponencial, por exemplo, em ambientes como o da Cafesul, que em 2012, 14 anos após sua fundação, o quadro de cooperados ainda era predominantemente masculino.
Mais Conexão Safra
“Raramente se via uma mulher na cooperativa comercializando café, comprando adubo, participando de assembleias, reuniões, dias de campo, etc. Cooperadas à Cafesul, tinha uma mulher quando começamos, que representava 0,73% sobre o quadro de cooperados. O grupo em si começou com cerca de 7 a 10 mulheres em sua primeira reunião. Atualmente, temos 40 mulheres cooperadas, o que representa 23% do quadro de cooperados”, ressalta Natércia Vencioneck.
Agora em 2024, metade do Conselho Fiscal da Cafesul é composto por mulheres. A participação feminina no quadro associativo ainda se refletiu nas contratações da equipe. Aproximadamente 66% do quadro de colaboradores são mulheres, que também ocupam os cargos de gerência.
A gerente istrativa da cooperativa destaca que o que tem ampliado o perfil da mulher na cafeicultura é o modelo de negócio da agricultura familiar.
“De uns anos para cá, mulheres que têm outras fontes de renda estão investindo na cafeicultura e buscando trabalhar cafés especiais, enfrentando desafios e se orgulhando de ser uma cafeicultora”, afirma.
Iniciativas que empoderam
E o que depender da gestão atual da Cafesul, todas as ferramentas serão disponibilizadas para incentivar e ampliar a participação da mulher na cafeicultura capixaba.
“Nós temos um projeto, desde 2014, com esse grupo de mulheres. E desde 2015 a gente vem realizando os concursos de qualidade exclusivamente delas. Ao final desse concurso, a gente adquire alguns lotes e são esses lotes de qualidade superior que vão para embalagem do Póde Mulheres, que é o café que a Cafesul comercializa”, explica o presidente da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), Renato Theodoro.
Além disso, a cooperativa também busca parcerias para garantir a estrutura necessária para a produção do café de qualidade. Ainda investe em capacitações constantes e desenvolve outros projetos junto ao Sebrae, como, por exemplo, o Negócio Lucrativo Rural, que visa melhorar os processos produtivos e de gerenciamento de propriedade.
Compra Cooperada
Outra inciativa que contribui para o empoderamento produtivo feminino, é o projeto “Compra Cooperada”, que consiste em comprar produtos, como frutas e verduras, de cooperados para doar para os projetos sociais os quais a Cafesul apoia nos municípios de Muqui e de Mimoso do Sul.
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