
O agro e a cidade: por que ainda falamos línguas diferentes?
por Paula Cristiane Oliveira Braz
em 14/05/2025 às 5h10
3 min de leitura

Foto: divulgação/freepik.com
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Apesar de ser um dos principais pilares da economia brasileira, o agronegócio ainda enfrenta um desafio que parece não caber nos números positivos de exportações ou superávits: o da comunicação. A distância entre o campo e a cidade vai além dos quilômetros de asfalto ou terra vermelha. Trata-se de um abismo simbólico, em que as percepções, os valores e os discursos se desencontram. Por que ainda falamos línguas diferentes?
De um lado, o campo produz, inova e movimenta mercados. De outro, a cidade consome, opina e, muitas vezes, julga com base em informações fragmentadas ou enviesadas. Parte dessa confusão nasce da ausência de uma comunicação estratégica por parte do setor agropecuário. O agro brasileiro cresceu em produtividade, em tecnologia, em representatividade internacional, mas ainda engatinha em sua capacidade de traduzir esses avanços para a linguagem da sociedade urbana.
As críticas, em muitos casos, recaem de forma generalizada: o desmatamento na Amazônia, o uso excessivo de defensivos agrícolas, a concentração fundiária. Há problemas reais, claro. Mas também há desinformação, simplificações perigosas e estereótipos que moldam a imagem do produtor rural como alguém alheio às questões ambientais ou sociais. Na prática, o que se vê é uma diversidade enorme: de grandes exportadores a pequenos agricultores familiares que dependem de políticas públicas para sobreviver.
Enquanto isso, nas cidades, o consumidor médio pouco sabe de onde vem o alimento que chega ao seu prato. A rastreabilidade, a logística, a escolha das sementes, o impacto das chuvas: tudo isso permanece invisível. A maioria desconhece o quanto o agro depende de planejamento, de gestão e, cada vez mais, de ciência. É justamente aí que mora a urgência de uma comunicação mais assertiva: o agro precisa contar sua própria história antes que outros o façam por ele.
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Isso não significa transformar produtores em publicitários, mas sim compreender que comunicar faz parte da estratégia de sobrevivência e valorização do setor. Abrir fazendas para visitas escolares, participar de redes sociais com conteúdo educativo, investir em campanhas que aproximem o campo do cotidiano urbano. Tudo isso ajuda a quebrar barreiras e construir pontes. E o melhor: com verdade, não com marketing vazio.
A ruptura desse silêncio é também uma forma de defesa. Em tempos de redes sociais e polarização de opiniões, quem não se posiciona corre o risco de ser enquadrado por narrativas adversas. O agronegócio brasileiro é plural, potente e, sim, imperfeito — como qualquer outro setor da economia. Reconhecer isso e, ao mesmo tempo, mostrar seus avanços e compromissos é o primeiro o para que cidade e campo em, enfim, a dialogar em uma mesma língua: a da compreensão mútua.
* Paula Cristiane Oliveira Braz é a, especialista em agronegócio e tutora dos cursos de pós-graduação na área de Agronegócios do Centro Universitário Internacional Uninter.
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